4 de julho de 2007

O FIM DE UMA MANGUEIRA

A vida das pessoas segue um caminho por demais longo, cheio de curvas, subidas e descidas, pedras e buracos, até que chega ao fim. Para muitos, cercada de felicidade, e para outros nem tanto. Mas a vida é assim mesmo, não se pode desviar dos solavancos. Na verdade, o que importa é saber ultrapassar todos os obstáculos, seguir em frente e encará-la com entusiasmo, nunca perder as esperanças no amanhã.
Mas não são só os humanos que atravessam caminhos pedregosos da vida. Se olharmos bem para os animais, domésticos ou criados nas florestas, e as plantas, observaremos que tudo tem uma seqüência normal. Se aqueles nascem no processo de procriação, estas germinam através das sementes. Também seguem em frente e um dia chegam no fim da jornada.
Então eu quero escrever sobre uma mangueira, que através da janela de onde eu moro, acompanhei por aproximadamente 20 anos a sua trajetória aqui na terra.
Essa mangueira me levou, não poucas vezes, a minha infância, quando eu passava todos os anos uma temporada na fazenda de meu avô, em Tamandupá, aqui perto da cidade. Um casarão belíssimo era dos tempos dos barões do café, com muitos cômodos, salas enormes de visita e de refeições e até acomodação, que ouvi dizer, era reservada a escravos. Atrás da casa uma horta onde eram cultivados verdura, legumes, cheiro-verde, hortelã e cidreira, usados nas refeições diárias e ervas para chás utilizados no tratamento de doenças comuns, resolvidas com esses produtos caseiros.
Passando por essa horta chegava-se a um pomar, cuja área não era menor que as medidas de um quarteirão quadrado. Árvores frutíferas a perder de conta. Aliás, moradores, sitiantes e fazendeiros nunca deixavam de ter nos arredores da casa esse tipo de cultivo. Nesse pomar eu passava horas, ouvindo o cantarolar dos passarinhos e admirando a beleza dos frutos, muito diferentes dos encontrados atualmente em feiras e supermercados, acima de tudo saudáveis e muito doces. O gostoso era subir nos pés de frutas e apanhar aquelas que ficavam nas pontas dos galhos, difícil de pegá-las. Era uma aventura que ficou guardada na minha memória.Registrando essas passagens volto à mangueira que vejo da minha janela.
Com uma copa de folhas verdejantes, como acontece quando a planta é saudável, todos os anos ela se embelezava com flores branco-amarelas, para depois surgirem pequenos frutos que se desenvolviam até alcançar o ponto da colheita. Mas como uma mãe que protege os filhos em seu colo, a mangueira mostrava as mais cobiçadas mangas no alto, sempre difícil de serem apanhadas, até que um dia ventos fortes as separavam.
De uns tempos para cá observei que diariamente a mangueira estava definhando. As folhas começaram a perder o viço e, de um marrom escuro, caíam, mostrando os galhos em processo de secagem, como costelas à mostra. Agora, só falta a derrubada fatal, com um impiedoso machado ou uma cruel serra pondo fim a sua vida.
Confesso que isso me entristeceu bastante. Não sei se essa mangueira percorreu os caminhos tortuosos de sua existência ou se sua vida foi interrompida precocemente.

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