6 de julho de 2007

MARCAS DO TEMPO

Saudade é mesmo lembrança nostálgica que maltrata muito por nos trazer à memória reminiscência do passado, ligada a pessoas ou objetos.
Quem não guarda para sempre em suas lembranças impressões da infância e da adolescência, que freqüentemente são revividas, provocando renovadas emoções!
Dia qualquer encontramos um amigo dos belos tempos de menino. Acontecimento feliz, mas inesperado, pois a vida obriga a todos a aventuras e desventuras, a mudanças de cidade e, às vezes, de país, que nos colocam longe das grandes amizades. Um dia, quando menos esperamos, ei-nos frente a frente, numa rua qualquer.
O impacto inicial nos é causado pela transformação física que um observa no outro. Guardamos a fisionomia gravada nos tempos da adolescência. Custa-nos crer toda aquela diferença que os corpos apresentam. Os cabelos, se não ausentes, estão grisalhos. E dizemos que é charme. A elegância proporcionada por um físico privilegiado foi substituída pela protuberância do abdome. Os rostos registram as marcas do tempo.
A reação inicial é de riso. E rimos disfarçadamente, fazendo de conta que não estamos acreditando na realidade diante dos olhos. A solução é nos enganarmos mutuamente. É o que fazemos. Nunca desejamos ter como verdadeiro o que o tempo nos mostra.
O que nos salva nessas ocasiões é o espírito humorístico ou então relembrar o passado. Recordamos os muros pulados do pomar vizinho, em busca de uma fruta madura e deliciosa. O caçar de uma inocente rolinha com um bodoque impiedoso. O nadar num riachinho de águas inofensivas, mas que nos causavam pavor. O andar a cavalo nas pradarias verdejantes. O brincar na chuva fina dos janeiros sem fim. O jogar bola de gude e as disputas de pião. As mentiras aos mais velhos, para evitar os castigos pelas peraltices cândidas.
Uma passagem pela casa grande da fazenda nos provoca uma reação dolorosa e deixa os olhos rasos d’água. As fotos dos avós, em poses elegantes, seguras por cordões compridos sustentados nas paredes. As samambaias e as avencas enfeitando com delicadas folhas os alpendres. As rosas, os lírios, os cravos perfumando os jardins. O relógio marcando o tempo, de modo implacável, com batidas dolentes de um badalo de bronze.
A saudade nos deixa marcas indeléveis nesses encontros inesquecíveis. Mas nos faz felizes.

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