17 de julho de 2007

OLHOS PARA AS FLORES




Estava eu a andar despreocupado por uma rua movimentada, quando pisei forte sobre um tapete macio de flores, já sem vida. Flores que caíam num balanço de bailado, assopradas por um vento suave, que parecia acometido de um sentimento triste, naquele ato involuntário que o destino lhe reservava.
As flores que enfeitam os jardins são alegres como uma criança, que se diverte com um brinquedo qualquer. É só notar como se sentem felizes ao ouvir um elogio à sua beleza e entendem as palavras que saltam dos olhares de quem as corteja.
Fiquei tempo a reparar as flores que o pé de ipê estendia naquele tapete cor-de-rosa. Absorto com o chuvisco de pétalas aveludadas a me acariciar o corpo. Nem havia reparado no senhor ao lado, óculos pretos, bengala, quieto, imóvel. Arrisquei uma conversa. Queria falar de flores, quando ele se virou, tirou os óculos e me perguntou: que flor exala esse perfume tão doce?
Olhei fundo nos seus olhos, dei-lhe os braços e o levei para o outro lado da rua.




Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei! Mexe com nossa sensibilidade! Parabéns!