31 de julho de 2007

NOITE ESCURA


À minha frente vejo três velas em chamas. Uma grande, uma média e uma pequena. Foram acesas porque lá fora a noite está escura. Não por razões da natureza, mas porque houve um blecaute na região. Isso sempre acontece e, não raras vezes, a volta da energia está pra mais de hora. Quando chove, trovões incomodam pelo medo que provocam, depois de relâmpagos assustadores, e o que acontece é que apagões são uma constante. Mas a noite está bonita. Até a lua manda lá do céu recados convidativos para namorados românticos. Por isso, é estranho o que está acontecendo.
Deixo esse problema da escuridão por conta de quem corre a responsabilidade de resolvê-lo. Que nem sempre é rápido.
Observo as três velas. Parece que está havendo uma competição, uma querendo fazer com que a chama seja mais bela que outra. E se lançam altas e brilhantes. Um leve vento que atravessa os vãos da janela provoca uma sessão de bailado e elas parecem dançar naquela ginga que envolve todo o salão.
Minha imaginação é aguçada na apreciação daqueles movimentos que as chamas transformam em festa. Penso em dar-lhes vida, provocá-las para me darem instantes de entretenimento, distração, enquanto aguardo a chegada da luz artificial.
Na medida que o tempo passa, as chamas vão corroendo seus corpos frágeis. Vão cedendo ao impacto que as esperanças desvanecem. Mas lutam e revivem instantes felizes, como se a luz que emanam restabelecesse a própria vida.
Mas, noto uma diferença brutal nas três. A grande e a média mostram-se com força maior e não querem perder o vigor que ainda as faz viver. Ficam alheias e ignoram a companheira do lado.
Volto meus olhos para a menor e percebo que a sua luta é insana, provavelmente vislumbrando um final próximo e triste. Penso um instante como é a vida. Enquanto jovem, vivendo a felicidade que a fantasia o alimenta, tudo são rosas, vermelha se revela o amor ou outra cor que renove a esperança para um futuro feliz. Nessa distração, esqueço um pouco a pequena vela se consumindo e vou até a janela para me socorrer dos raios da lua numa tentativa de dar-lhe forças para superar os desafios na luta destemida em que está entregue. Pareço-me tão fraco como ela e sem coragem para estimulá-la em seus momentos agonizantes. Na verdade, não sei o que fazer e me entrego às fraquezas humanas.
Que luta triste acompanho. As chamas esforçam-se para lhe dar esperanças. Mas ela parece a cada instante mais fraca. Num derradeiro esforço, junta-se a outras chamas provocadas por restos de velas no fundo do castiçal, como se fossem mãos em oração aos céus, num pedido de salvação. As labaredas se confundem em abraços de despedida. Aos poucos, apagam-se, num último suspiro.
As outras duas velas? Não deixaram história para contar.

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