29 de agosto de 2008

O CÃO E O MÊS DE AGOSTO


O cão é o melhor amigo do homem, ninguém duvida disso. São inúmeros os acontecimentos que comprovam a dedicação desse animal para com o seu dono ou com quem dele cuida. Tratado com carinho, dedicando-lhe atenção é um verdadeiro amigo de todas as horas. As pessoas que o têm sabem muito bem disso, com a alegria que manifesta a sua chegada em casa, da mesma maneira a tristeza com a sua ausência.
Um ditado muito popular afirma que é melhor mesmo ter um cão amigo que um amigo cão. E aí está tudo expresso a respeito de sua dedicação ao homem. Antigamente, era comum o cão ser atacado por uma doença incurável, que o levaria ao sacrifício.
Desde os tempos de criança eu ouvia falar que agosto era o mês do cachorro louco. E havia uma razão de ser. É que nessa época do ano ocorria o aparecimento da raiva nesse animal –– doença infecciosa, virótica, que acomete o sistema nervoso central e incide em mamíferos, cujo período de incubação vai de 20 a 60 dias. Fácil era perceber essa doença no cachorro, notadamente aqueles abandonados, que viviam soltos na rua, pois o animal aparecia expelindo baba constantemente.
Daí as crianças, que tinham pouca condição de segurança, recolhiam-se correndo para suas casas, enquanto a solução do problema ficava por conta dos adultos. Hoje a vacina anual evita que isso aconteça, pois já são raros os casos dessa doença.
Um caso do cachorro louco marcou minha vida para sempre, pois ainda continua vivo na minha memória e freqüentemente me vem à tona, sobretudo, com a chegada do mês de agosto. Um colega, naquele tempo da escola primária do bairro Paraíso, que pertencia a Piracicaba e hoje incorporado a Charqueada com a denominação de Paraisolândia, foi atacado por um cão acometido de raiva e hoje só restam saudades.
Esqueçamos as coisas tristes do passado. Melhor é lembrar agosto como o mês do folclore. Não poucas vezes, quando um acontecimento é reiteradamente revivido, diz-se que “isso é folclore”, algo inverossímil, que entrou no calendário como ficção. Folclore é muito mais que isso. A vida das pessoas é cercada de curiosidades que podem despertar uma série de sentimentos, como de alegria, felicidade, angústia e até medo.
Quando se ouve uma pessoa dizer que acredita em determinadas ocorrências, acentuadas pela divulgação oral dos povos, como lendas, crenças, costumes, cores, cantigas e outras mais, ela está perpetuando tradições folclóricas, aquilo que vem de muito longe e que passa de geração em geração.
O folclore é a manifestação espontânea de causos, cantigas de roda e de ninar, adivinhações, provérbios ou figuras conhecidas como saci-pererê, mula-sem-cabeça, vampiros e outras expressões populares.
As crendices vão do perigo de passar por baixo de uma escada, um gato preto atravessar a frente de uma pessoa, até benzimentos, mistura de frutas que fazem mal, sonhos com as mais variadas interpretações.
Uma infinidade de outros casos está ligada ao sentimento coletivo do folclore, cujo mês está chegando ao fim. Ah, mas há uma situação folclórica um tanto marota.
Sabem por que os defuntos ficam com os pés de frente para a porta de saída? Não? O folclore explica: é para eles saírem mais depressa da casa ou do velório e deixar a família em paz. Que falta de sentimento!

INVENTÁRIO DE SENTIMENTOS



O passar do tempo acumula na vida de cada pessoa registros que ficam guardados como riquezas sentimentais, jamais confundidas com heranças familiares, relacionadas em inventários de bens materiais.

Quando se fala em inventário o primeiro entendimento de manifestação das pessoas se relaciona com aquilo que é discriminado no rol de feitos que alguém acumulou na vida e deixa como patrimônio a gerações futuras ou mesmo lhe dá outra finalidade, como destinada a uma instituição filantrópica, neste caso, sobretudo, na falta de descendência familiar.

Entretanto, há um patrimônio que a gente forma na vida que não se identifica como riqueza material. É a soma de bens que se enriquece no dia a dia, que se fortalece nos encontros freqüentes, mas que nem sempre se perpetuam nas condições em que se alimentam e se limitam.

Estou refletindo no entendimento que se possa ter dos bens sentimentais. Se a gente parar por alguns instantes para pensar um pouco, deixando de lado as intempéries que assoberbam a vida de cada um e voltar no tempo, fácil é chegar ao inventário das coisas que são somadas diariamente. Não alimento a história que é escrita com lembranças representadas por jóias, móveis, adornos ou outro objeto qualquer que possa ser considerado relíquia ou ter algum valor particular. Refiro-me ao sentimento de simpatia, de estima mais íntima, enfim, de dedicação recíproca entre as pessoas, como a amizade.

Quantas amizades são feitas desde as brincadeiras que as crianças cultivam nos passatempos dos jogos de pião, bolinha de gude, pipas soltadas ao sabor dos ventos e tantas outras que marcam a vida da gente. Depois, na mocidade, nos divertimentos que mudam os interesses de cada um. E o tempo vai passando, muitas coisas esquecidas e algumas renovadas em encontros fortuitos, enquanto outras nascem para o rejuvenescimento da vida, na constituição de famílias e no círculo das amizades que se formam.

Nos tropeços com que as pedras interrompem os caminhos vividos, faz bem que alguns acontecimentos fiquem para trás, sejam esquecidos, porque não foram cimentados com a admiração que estreitam as amizades. Mas, a vida é tão cheia de desencontros que nem sempre carregam consigo os sentimentos que surgem de um momento para outro e que se perdem também na mesma constância, sem que se descubram motivos aparentes que os justifiquem. Talvez sejam amizades frágeis, passageiras, que não se consolidam na firmeza de sensibilidades mútuas. Nem encontros freqüentes parecem recuperar aqueles instantes cultivados. Sentimentos que se esmorecem pouco a pouco, como aqueles pingos tristes e solitários, que parecem lágrimas, ao final das chuvas. E tudo vai passando como se nada tivesse acontecido.

Fico a pensar que são bens sentimentais que voam nas asas da saudade e se perdem nos espaços que os céus cobrem, como nuvens que caminham ao léu e se desvanecem nos impulsos das ventanias. E nada se pode fazer, porque as mãos que os querem agarrar não chegam nas alturas em que eles se põem ou se escondem nos horizontes inalcançáveis.

Quisera ser um poeta para registrar em versos esse inventário da vida, pois só a poesia pode traduzir os sentimentos que cada um traz no coração, coração que se torna frágil e se curva na passagem dos tempos.

Por acaso, você nunca sentiu isso?

COMO PASSAR O INVERNO



As donas-de-casa têm uma dor de cabeça que não é física, sujeitas à obrigação de ter mais atenção com a poeira, que nesta época do ano faz a festa da sujeira nos lares.

As plantas também sofrem as conseqüências dessa estiagem. A grama dos jardins seca, as flores murcham. Perdem aquele vigor e a beleza dos tempos bons.

As pessoas olham o céu para ver se alguma nuvem lhes traz uma mensagem de chuva próxima. Mas, não. É um tal de esquenta-esfria sem fim.

As aves sentem a mudança de temperatura. Os passarinhos se escondem entre as folhagens das árvores e se aquietam, até que chega um momento para procurar o alimento necessário a sua sobrevivência.

O que salva um pouco são os pés de ipês que florescem, mas por pouco tempo, porque a vida das flores é efêmera. Mas vale a pena admirá-las, pois deixam o chão coberto com um tapete colorido. Primeiro, os roxos; depois, os amarelos; finalmente, os brancos.

Pulo a primavera para chegar ao verão. Chega o tempo das chuvas. Nuvens escuras desviam-se das montanhas e alcançam alturas. Relâmpagos riscam o espaço e provocam o estouro dos trovões. De repente, tudo passa. Alguém deve ter feito orações, porque as nuvens arrebentam-se em lençóis brancos e se perdem no espaço. Ninguém desconhece que um pedido aos céus ajuda a evitar tempestades quando feito com fé.

Bom é quando a chuva chega caindo mansamente, as andorinhas fazem a festa, banhando-se em vôo coreográfico no seu chilrear alegre.

Postado à janela, com pingos da chuva escorrendo pela vidraça, acompanho as cenas desse palco improvisado. Um menino empurra um barquinho na poça formada nos contornos da calçada, que aos poucos se dilui pelo fio que escorre e se enfia pelos corredores subterrâneos.

Num instante, o espaço se abre para um sol sonolento. A poça d’água secou e o menino sai com seu barquinho todo molhado.

A noite chega, a lua e as estrelas brilham no céu.

Fecho a janela. Magia do tempo.

Retorno à estação anterior. É primavera. Que bom! Flores reavivam os jardins para enfeitar a cidade de cores, que fica mais bonita, que oferece novo cenário e que torna o ambiente agradável para se viver com mais alegria.

9 de agosto de 2008

O CHAPÉU CAIU DE MODA



Na minha família uma cama e um lavatório marcam sua existência com mais de 100 anos, cujo valor é inestimável, quer como patrimônio e, principalmente, pelo aspecto sentimental.
Não me esqueci, não, de colocar na relação acima o porta-chapéus, peça facilmente encontrada nessas lojas de móveis usados. O porta-chapéus está um pouco em desuso na atualidade, mas é um móvel muito antigo. Não servia apenas para dependurar chapéus, como paletós e guarda-chuva. Agora, é enfeite de salas, serve como decoração em ambiente familiar.
Hoje quase ninguém usa chapéu. Nem para guarnecer a cabeleira de sol ou sereno e muito menos para aquele gesto natural nos cumprimentos às senhoras em encontros familiares ou na demonstração de respeito e carinho em apresentações de damas representativas da sociedade.
Um dia destes deparei-me com um chapéu colocado em um dos cabides desse móvel. Não parecia novo, pois os vincos não guardavam os efeitos característicos e estava coberto de fina camada de poeira destacada por raios do sol que batia na janela, o que denotava que há algum tempo ali descansava. Fiquei a olhá-lo e até simulei um diálogo, não correspondido, claro, mas me interessei um pouco em descobrir, ainda que em pensamento, como teria passado em vida.
Um chapéu, um simples chapéu. A cor amarronzada do feltro causava impressão de abandono. Não me arrisquei em perguntar aos que conversavam por perto a razão para guardar aquele acessório masculino.
Fujo um pouco dessa conversa simulada que pretendi estabelecer e faço meus pensamentos percorrerem o tempo passado, tentando encontrar a resposta que procuro.
Me vêm à memória perguntas que se entrelaçam no mistério que procuro desvendar.
Poderia ser uma lembrança a cutucar a memória de alguém que passou na vida daquelas pessoas a sua volta? Estaria aquele chapéu guardando alguma história sentimental? O que teria passado pela cabeça de quem o usou? Seria algo abandonado, como tudo que o tempo registra?
Perguntas mil me passaram pela cabeça. Não encontrei resposta. Ficou comigo a intenção de saber algo misterioso, como acontece com os curiosos.
Não sei se é um chapéu velho, esquecido no tempo, ou um velho chapéu, repositório de segredos e saudades.

27 de julho de 2008

JOGANDO CONVERSA FORA

Não se sabe se a velhice é um prêmio ou um castigo. É isso que se fala à boca pequena. Há uma razão de ser para que ela seja assim entendida. Acontece que se a saúde não passar por nenhum abalo pelos caminhos da vida, isto é, se a pessoa chega à terceira ou quarta idade em perfeitas condições físicas e espirituais tudo bem. Mas nem sempre é assim. O passar do tempo deixa marcas no organismo que exigem atenção, e a procura de um médico –– ou de vários –– é indispensável. Bem, daí são recomendações mil. Na alimentação, nos exercícios físicos, nas caminhadas, repousar cedo, evitar isto e aquilo e, principalmente, muito cuidado com as intempéries, sobretudo no inverno. Quando a pessoa chega na terceira idade ela leva nas costas a aposentadoria, merecida, afirmam, depois de algumas décadas de trabalho árduo. Mas, quando chega perto dessa situação, um sem-número de conselhos bate na sua cabeça, recomendações de amigos nem sempre bem aceitas. Dizem para tomar cuidado, porque parar de repente pode ser complicado. É preciso arranjar outro emprego, nem que seja leve, somente para ocupar espaço, preencher a vida ociosa que passará a ter. Pior quando falam que fulano bateu as botas depois de pouco tempo aposentado. Um outro bateu com as dez porque não agüentou tanta ociosidade. Um terceiro passou para o andar de cima porque ficou isolado, sem a companhia dos colegas de trabalho, e tinha dificuldades em fazer novas amizades.
Bem, acho que esse é um tipo de conselho extremamente desagradável. O primeiro pensamento que vem à cabeça do aposentado é poder gozar a vida, viajar, conhecer lugares nunca antes visitados, sem ter que levantar de madrugada, com horário estabelecido para entrar no trabalho.
E tem mais. Como é saudável para o espírito e para a mente reunir-se com pessoas, ainda que sem aquela amizade íntima, para prosear, jogar conversa fora! Falar de política, futebol ou mesmo amenidades para passar o tempo.
Uma passada por praças e jardins da cidade, nas manhãs de sol preguiçoso, é suficiente para preencher de uma maneira bastante alegre o tempo que uma pessoa precisa depois de aposentado.
Claro que os tempos são outros. Casais juntam-se as mãos, caminham sem muita pressa e ao primeiro banco à disposição sentam-se. Ficam a admirar o céu azul, as flores que enfeitam os jardins, a mansidão das andorinhas nos seus vôos sem destino ou mesmo a algazarra das crianças brincando nos escorregadores, balanços, gangorras, e se distraindo com outros brinquedos, sob olhares dos pais sempre atentos.
Duas senhoras de cabelinhos lisos e brancos conversam animadamente à sombra de frondosa árvores, uma segurando uma bengala, para qualquer eventualidade, e outra um guarda-chuva, prevendo mudança do tempo.
Avós levam os netos a passear, compram presentes, guloseimas, mesmo para os gordinhos, para o desespero das mães. Brincam com eles, distraem-se, voltam ao tempo de criança. Isso não é bom para um aposentado? O que não é bom é ficar isolado, triste, esquecido na cadeira do papai em um canto da sala, recebendo uma nesga de sol que se infiltra pelas frestas das janelas. Não poder assistir a programas da televisão porque os olhos teimam em diminuir a distância e os ouvidos pedem a proteção das mãos em conchas.
Jogar conversa fora também faz parte da felicidade de quem já cumpriu suas obrigações na vida. Depois, é preciso esquecer o ditado que afirma que é mais bonito o choro de uma criança que o sorriso de um idoso. Bonito mesmo é que ambos possam sorrir juntos.

CORRESPONDÊNCIA DIÁRIA


Tempos atrás, quando o carteiro batia à porta de casa era recebido em meio a grande expectativa, em virtude de prováveis novidades ele estivesse portando em carta que entregava. Uma carta apenas, às vezes em espaço de tempo longo, porque a correspondência desse tipo ocorria normalmente entre parentes distantes, nem sempre com freqüência e apenas quando se registrava algum evento importante e o assunto merecia comunicação imediata. Fora isso, raramente havia contato com o funcionário do Correio, a não ser nos encontros de rua, para cumprimentos costumeiros, tão considerado era pelas famílias.

Outro dado interessante é que a correspondência demorava algum tempo para chegar até o destinatário, a não ser quando indicava uma condição expressa, provavelmente em função dessa necessidade e porque o assunto que portava revelaria urgência de conhecimento à pessoa endereçada.

Hoje não é assim. Os tempos passaram e provocaram uma mudança para facilitar o atendimento ao público. Na atualidade é mais que expressa. Foi criado o “Sedex”, com entrega em dois ou três dias e se exigido até em 24 horas. Então, melhorou sensivelmente, mesmo porque outros meios de comunicação entraram pra valer como uma espécie de concorrente em potencial. Entretanto, hoje, o volume de correspondência é maior.

Ao toque da campainha, vou receber a correspondência no portão de casa. O carteiro, solícito e atencioso, sorri, agradece e se despede, depois que assino recibo de um pacote especial.

A pressa me faz deixar tudo sobre uma escrivaninha. À noite, começo a abrir a batelada de envelopes. Neste tempo em que tudo é oferecido com muita facilidade, pouca coisa se aproveita da correspondência diária. Mas se é obrigado a ler carta por carta, ou, pelo menos, olhar rapidamente cada folder, sempre atraente. A primeira mensagem é uma dessas correntes que me prometem ficar rico em pouco tempo. É só mandar umas 10 mil cópias a amigos e inimigos. Trazem algumas advertências, entre elas evitar interrompê-las, pois pode acontecer uma tragédia na família.

Outra carta me diz que fui premiado com um título de sócio de um clube recreativo. Que bom, penso. Depois, leio que só pagarei módicas mensalidades e que é perto, só uns 200 quilômetros de onde moro.

Abro envelope por envelope, seleciono os assuntos, amasso, faço uma bola, miro o cesto e “chuá”, acerto em cheio. Três pontos a meu favor. Bem, o último me desperta interesse. Empresa de turismo oferece facilidade para uma viagem a Santiago de Compostela. Cartões postais maravilhosos.

É tarde, vou descansar, mas fico pensando: conhecer um caminho cercado de tanto misticismo, cantado em prosa e verso por tanta gente, fazer novos amigos e rezar. Sobretudo, fazer orações compenetradas para que os 800 quilômetros de caminhada me façam um turista feliz e convicto da fé que tenho.

Mas eis que o cantar do cuco no relógio da sala me faz despertar, pois é hora de começar um novo dia, cheio de compromissos inadiáveis. Que pena! O que aconteceu nessa viagem sonhada contarei em outra oportunidade, se houver tempo. Sonhar não faz mal a ninguém.

9 de julho de 2008

O AMANHECER NA ROCA

Era até estranho que tivessem lhe arranjado um lar em pleno centro da cidade, com ruas cercadas de prédios de apartamentos, residências e lojas comerciais por todos os lados. Quando novo, ensaiava cantos meio engasgados, solfejando notas como aprendizes de música. Claro, faltava-lhe um irmão ou vizinho com quem pudesse aprender ou imitar os cantos. Foi um autodidata e por fim sabia como mandar pelos ares e para longe o seu cantar.
Ultimamente, não tenho ouvido os sonoros cantos do galinho. Por certo, bandeou para outro galinheiro, uma chácara, sítio ou mesmo residência de algum lavrador das redondezas, onde continua na sua missão de relógio do romper dos dias.
Me lembro do alvorecer nas fazendas e bairros rurais, quando galos madrugadores anunciavam a chegada de um novo dia. Um cantava aqui, outro respondia lá na frente, num sentimento de solidariedade. Parecia um canto transformado em conversa que ia rompendo as barreiras das matas, levado para rincões longínquos. Na medida que o sol despontava davam por encerrada a incumbência que cada um tinha e se punham nos terreiros como chefes compenetrados de suas famílias bem-comportadas.
O amanhecer na roça é um resplandecer da natureza, embelezada pelos cantos de passarinhos. Cada um com seus afinados acordes, nas matas ou nos quintais, em árvores floridas ou nos aramados que cercam divisas de residências.
Como é bonito se ouvir o canto de um solitário sabiá empoleirado em galho de uma laranjeira. De colorido simples, cinzento-oliváceo, branco, do campo, pardo ou avermelhado, são populares e bons cantores. O sabiá-laranjeira tem um canto nostálgico e escritores o cantam em prosa e verso.
Nessa espécie de pássaros tem o sabiá-cavalo, que deve ser um bom cavaleiro; o sabiá-cachorro, mas desconheço se seu canto é parecido com latido; não sei se o sabiá-ferreiro bate bem bigorna; o sabiá-tropeiro deve ser uma boa companhia dos condutores de tropas. Uma série de outras denominações por todas as regiões do Brasil. Tem até o sabiá-verdadeiro.
Nos entardeceres do campo, o cantar dos sabiás é como uma canção de seresteiro em noite de luar, sob a janela da namorada, ao som de violão, flauta ou violino.
Só no amanhecer na roça se pode ouvir o piar melancólico do inhambuxororó e do inhambuxintã, quando na procura das sementeiras de roçados.
Pintassilgos, papa-capins, bem-te-vis, tuins e outros pássaros, empoleirados em algum galho seco ou em revoadas, levam seus cantos ao longe dos sítios e fazendas. Formam uma orquestra solidária às bênçãos de um dia de felicidade. Somente quando o sol é mais forte se escondem à sombra de frondosas árvores para descanso reparador.
A chuva mansa como gotículas que batem no telhado é uma suave manifestação das nuvens que vão e vêm, enquanto o azul do céu fica escondido. As batidas das águas nas pedras da cachoeira soam nas madrugadas como lenitivo a uma noite de insônia.
Que saudade dos amanheceres na roça e dos encantos da natureza!

FLORES E TAPETES

Toalhas de crochê, curtas ou compridas, que se estendem pela mesa de jantar, completam um visual bonito e acolhedor em uma sala bem cuidada.
Esse comportamento é próprio das senhoras, que cuidam com muito gosto e carinho de todos os detalhes, e proporcionam aos familiares e visitantes aquela sensação de um estado de felicidade completo.
Um piano mudo e esquecido num canto da sala é a presença viva de que um dia emitiu pelos ares sons de consagrados autores, dedilhados por uma jovem candidata a solista, na interpretação de peças belíssimas assinadas por Chopin, Mozart, Beethoven e outros. Cansado, o piano pode servir para amparar finos bibelôs sempre enriquecidos com novas peças juntadas ao sabor dos tempos.
Console é aquela peça de madeira esculpida, de ferro batido ou de pedra, presa ou encostada à parede. Uma espécie de aparador sempre enfeitado com artefatos de cristal, flores e até fotografias que lembram casamentos, filhos e parentes próximos. Também faz parte de um ambiente bem cuidado.
Outro destaque de uma sala é o tapete, que dá um toque de distinção, de sobriedade ao ambiente. Pode ser simples ou sofisticado, liso ou florido, macio. Mas há um detalhe nas linhas de um tapete que envolve o emaranhado dos seus pontos e cruzamentos.
Não são apenas os labirintos que interrompem passos que se possam dar nas caminhadas tecidas. Podem revelar alegria, vivida no auge da felicidade, ainda que em instantes de recolhimento, quando a imaginação voa na conquista do espaço fantasioso. Mas podem, também, manifestar o outro lado do infinito pensar de uma ilusão sentida e que o tempo traz à memória com crueldade indesejável. Não estariam escondidos no meio dos pontos tortuosos laços misteriosos de uma vida conturbada e cheia de percalços? O que pensou quem os teceu? Teria sido em momentos de tristeza ou amargura? Quem sabe?
Experimente alguém seguir as trilhas coloridas bordadas em um tapete e chegará à conclusão de traços misteriosos, cheios de obstáculos, que cansam e iludem.
O tapete de uma sala de visitas é agradável aos olhos, pelo seu desenho e cor, mas enganam aqueles que querem desvendar seus labirintos.
Melhor mesmo é o tapete mágico dos contos orientais, que enfeitam sonhos e aguçam a imaginação em seus vôos fantasiosos.

SEM EIRA NEM BEIRA

As boas coisas que circulam pela internet podem ser relembradas, eis que muitas delas aguçam a curiosidade em torno de seu entendimento. Expressões que ficaram marcadas no tempo e relembrá-las sempre é interessante pelo que revela seu conteúdo.
Quando se fala “nas coxas” pode, em princípio, causar impressão não verdadeira. Entretanto, as palavras traduzem que as primeiras telhas usadas nas casas no Brasil eram feitas de argila, moldadas nas coxas dos escravos. Como os escravos variavam de tamanho e porte físico as telhas ficavam todas desiguais devido aos diferentes tipos de coxas. Daí a expressão fazendo nas coxas, isto é, de qualquer jeito.
No embalo desse significado encaixa-se aquele referente aos telhados de antigamente, que possuíam eira e beira, detalhes que conferiam “status” ao dono do imóvel. Possuir eira e beira era sinal de riqueza e de cultura. Não ter eira nem beira significava que a pessoa era pobre, estava sem grana.
Conta-se que “ficar a ver navios” tem a seguinte história: dom Sebastião, rei de Portugal, havia morrido na batalha de Alcacer-Quibir, mas seu corpo nunca foi encontrado. Por esse motivo o povo português se recusava a acreditar na morte do monarca. Comum era as pessoas visitarem o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, para esperar pelo rei. Como ele não voltou, o povo ficava a ver navios.
Quem já não ouviu falar que alguém não entende patavina? Pois é. “Os portugueses encontravam uma enorme dificuldade em entender o que falavam os frades patavinos, originários de Padova, Itália. Sendo assim, não entender patavina significa não entender nada”.
Esta é de farmacêutico: dourar a pílula. Antigamente as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, para melhorar o aspecto de remédio amargo. A expressão dourar a pílula significa melhorar a aparência de algo.
E como se explica a expressão conto do vigário? Duas igrejas –– seriam de Ouro Preto –– receberam uma imagem de santa como presente. Para decidir qual das duas ficaria com a escultura, os vigários contaram com a ajuda de um burro. A explicação é a seguinte: colocaram o burro entre as duas paróquias e o animal teria que caminhar até uma delas. Conta-se que a escolhida pelo quadrúpede teve treinamento do seu vigário.
Violência em família deu origem ao “voto de Minerva”. A história registra que Orestes, filho de Clitemnestra, foi acusado pelo assassinato da mãe, que havia assassinado o marido Agamenon, com a ajuda do amante Egisto. No julgamento, houve empate, cabendo à deusa Minerva a decisão, que foi a favor do réu. Eis porque o “voto de Minerva” entrou para a história como decisivo em questões de empate em julgamentos

23 de maio de 2008

MOLECAGENS

Quando se é moleque, uma idade em que as responsabilidades ainda não fazem parte direta da vida, nada ou pouco se tem a pensar em termos de coisa séria. Realizadas aquelas obrigações corriqueiras exigidas pelos pais, próprias da capacidade de cada um, tudo é mais ou menos levado na brincadeira. É um tempo em que se pode fazer o pensamento voar e atirar-se a travessuras, pouco se dando a possíveis conseqüências que venham a acontecer. Na verdade, difícil é esconder algo de errado, porque o comportamento e a própria cara são delatores em potencial.
Chegada a época em que os estudos atingem a segunda fase, fácil é saber das necessidades de reuniões, para estudos em conjunto das matérias que já alcançam maiores dificuldades, distribuindo-se em residências diversas, isto é, uma vez e cada casa de aluno. Enquanto todos não estão presentes, um bate-papo para descontração, com cada um revelando aventuras do dia anterior, piadas e gargalhadas, que chamam a atenção daqueles que estão por perto.
Bem, hora de estudar exige seriedade de todos. Os assuntos são postos à mesa, discutidos até que se chegue a um entendimento comum. Claro que os debates quase sempre são acalorados, dado que a tese de cada um é defendida com argumentos convincentes.
Quando a reunião está mais quente chega a mãe de um estudioso, que é a dona da casa, para oferecer um cafezinho quente, acompanhado de bolo de cenoura, milho ou fubá. Mais um tempo para papo-furado. Quando percebem que todos os problemas escolares foram resolvidos, fecham-se livros e cadernos e canetas são guardadas. Como ninguém tem nada a resolver na vida, aparecem os momentos propícios para armações e brincadeiras. Pensamentos voam. Sugestões surgem. Definem-se as etapas. Mãos à obra.
O primeiro passo é saber quem se encarrega de começar as aventuras. Sempre tem alguém que é mais atirado e resolve fácil: “deixa comigo”.
Todos saem à rua. O ônibus aponta na esquina. Um deles sai correndo, movimentando os braços como interessado em apanhá-lo. O ônibus pára e ele continua a correr e vira a primeira esquina. De outra feita, o motorista pára, abre a porta e o malandrinho pergunta as horas.
Atendido, responde: “Obrigado, tio”. Claro que nem sempre o motorista, cansado e com fome, aceita esse comportamento numa boa e solta um palavrão, enquanto uns passageiros riem e outros ficam irritados.
Quantos pais não são iludidos por uma traquinagem do filho, que chega em casa com a mão sangrando e sustenta que caiu da bicicleta, rolou na rua cheia de pedras e feriu-se, mas a verdade é que ele tocou a campainha do vizinho próximo para sacaneá-lo e tenta sair correndo, mas se machuca naquelas flechas de ferro que encimam as grades das entradas dos jardins. O garoto faz cara feia, mas um pouco de iodo resolve o problema.
O comportamento dos moleques, não raro, chega mesmo a extrapolar das brincadeiras comuns e até parentes próximos podem ser alvos delas, como aqueles dois que a um descuido do tio abriram a porta do automóvel e acenderam um artefato com cheiro bem forte e característico de um pum. Imaginem quando o tio entrou no veículo. O cheiro infestou as proximidades.
E as traquinagens nas salas de aulas e nos corredores escolares, com apelidos aos professores e aprontadas aos mestres? Uns se fazem de desentendidos e outros não perdem a oportunidade para uma lição de moral.
Essas molecagens dos filhos os pais ficam sabendo após longo tempo. Quase sempre acontecem em reuniões familiares, com avós e netos presentes, quando cada um conta as peripécias de saudosos tempos de uma mocidade bem vivida. Todos riem e perdoam as brincadeiras e as mentiras bem urdidas, mesmo porque nada mais se pode fazer, pois nesses encontros o que vale mesmo são momentos de descontração e alegria.

DIA DA MENTIRA PERDEU A GRACA

Houve um tempo em que o dia 1º de abril –– consagrado à mentira –– era motivo de brincadeiras dos mais variados tipos: ingênuas, humorísticas ou carregadas de algum motivo que poderia transformá-las em verídicas por momentos, no decorrer de suas manifestações. Começavam em casa, provocadas por familiares, envolvendo crianças e dali saindo às ruas. Interessante que eram facilmente acreditáveis, porque transmitidas com toda seriedade, até que fossem reveladas ao ouvinte como uma pegadinha sem maiores conseqüências, pois essa era a verdadeira finalidade como comemoração da data.
Há uma justificativa para esse evento. Tantos mentirosos se consagraram através dos tempos e outros que os sucederam são facilmente encontrados pelas ruas da cidade. Deve ser pela persistência desse comportamento que foi instituído o Dia da Mentira. Uma comemoração meio estranha, mas justificável, pois eles merecem. Afinal, em meio a tantos dias comemorativos a acontecimentos os mais diversos, um a mais ou a menos não faz mal a ninguém, não é mesmo?
A gente sabe que muitos causos, ou a maioria deles, são envolvidos em situações nada verdadeiras. Não fosse assim, não teriam graça. Sérios ou ingênuos, são contados para distrair ou provocar risos. Quando alguém está rodeado de curiosos e há manifestações de alegria a todo instante é porque ali a patranha corre solta. E o patranheiro nunca é desmentido. Essa reação não é de bom tom. Por sinal, é aplaudido e solicitado a contar outras histórias do mesmo naipe.
Por outro lado, um cidadão metido a contar vantagens, normalmente, é um deslavado mentiroso. Mas aí é diferente, porque ele quer mesmo é aparecer, sem precisar botar melancia no pescoço. E onde se coloca o pescador? Nesse caso, o pescador fica de fora. Afinal, ele sempre tira fotografia ao lado do maior peixe da história e não pode ser desmentido, mesmo se for pescado no rio Piracicaba dos dias atuais. É a prova irrefutável de seu feito. E quem vai contestá-lo? Bem, por que se condenar os contadores de causos e os pescadores pelas histórias que contam, se tanta gente por aí mente de maneira deslavada, com a maior cara-de-pau, e nada acontece?
Mente-se com toda seriedade possível. E como se mente! Mente-se para encobrir uma verdade, que, às vezes, salta à vista. Não poucas vezes, mente-se para salvar uma situação.
Noutros tempos, o Dia da Mentira era esperado com muita expectativa e os brincalhões preparavam com certa antecedência qualquer situação que embaraçasse um amigo, culminando com muita gargalhada. Hoje, perdeu a graça. Não se fazem mais brincadeiras como antigamente para “pegar” um ou outro incauto. Assim visto, esse dia acabou ficando chato. É bem provável que isso acontece porque a mentira tem perna curta. Mas se o leitor tem saudade de épocas passadas e guarda consigo algo desse tipo, não perca oportunidade e ao primeiro amigo que encontrar na esquina tente uma pegadinha. Ele também vai se divertir, com certeza.
Mas não é novidade para ninguém que a mentira campeia de verdade pelo mundo afora.

QUITUTES CASEIROS

De tempos em tempos minha cachola abre o seu baú de guardados e me põe de volta ao passado, com recordações por demais agradáveis vividas no convívio familiar. Sabem os não muito antepassados que, antigamente, tudo era feito em casa. Não havia quase nada preparado industrialmente e colocado à disposição do consumidor. Como acontece agora. É só chegar no supermercado e uma visita às gôndolas resolve qualquer problema, mesmo que seja de última hora, por ocasião de uma visita inesperada. Muito particularmente, foram as famílias italianas, ou as delas descendentes dando continuidade, que trouxeram do país de origem comidas que acabaram incorporadas ao cardápio brasileiro, notadamente as massas dos mais variados tipos.
Naqueles tempos assava-se o pão no forno feito no quintal, nem sempre ao abrigo das intempéries. A dedicada dona-de-casa preparava a massa na cozinha, que ficava durante algum tempo em vasilha para que crescesse. Enquanto esperava o momento exato para assar, acendia o forno para o aquecimento necessário. E nem precisava de aparelho para saber se ficava no ponto exato. Era na base do olhômetro, pois o fogo provocava ondas externas e facilmente sabia-se que era a hora de enfornar. Nos bairros rurais usavam-se muito, e talvez ainda se usem, folhas de bananeiras para assentar a massa já transformada em diversos pães, de peso que oscilavam de 500 gramas para um quilo. Depois de certo tempo, a abertura da boca do forno era necessária para acompanhar a evolução do cozimento. Ganhando a cor esperada os pães eram retirados, utilizando-se de uma pá de madeira com cabo comprido. Alimento para o café da manhã por uma semana.
Quanta coisa deliciosa se fazia antigamente pelas mãos caprichadas das donas-de-casa. Aliás, dizia-se mesmo que eram mãos de ouro, porque tudo saía bem-feito. Meu pensamento me leva ao quintal de minha casa e vejo minha mãe colhendo goiaba, abóbora, pêssego, figo, laranja (falava-se em laranja azeda ou cavalo), mamão verde, batata e outras frutas para transformá-las em apetitosos doces. E os bolos? De fubá, de milho ou aquele coberto com fatias de bananas, que, se me lembro bem, em casa era chamado de “cufa”. Podiam ser bolos comuns, mas davam água na boca. E os pudins, os manjares brancos? Tem mais. O curau, a pamonha e o arroz-doce?
Já morando na cidade, minha mãe reunia minhas tias aos domingos para jogos de cartas. Inocentes, como escopas simples e de 15. Sem discussões. Era para passar o tempo e bate-papos prolongados, recordar o passado, falar de gente amiga, relembrar parentes que se desligaram das famílias e foram para longe. Depois de algum tempo, a jogatina era interrompida para a degustação de um gostoso “crostoli”, acompanhado de café feito na hora. Esse quitute era feito com massa aberta com rolo de macarrão (dizem que muitas mulheres também se utilizam dele para amansar marido, mas não tenho prova), depois transformada em lâminas estreitas e finas, cortadas em pedaços pequenos, fritas e salpicadas com açúcar cristal. Quem não conhece não sabe o que é bom. Só de escrever dá água na boca.
Ah, mas quantos quitutes saborosos se faziam no passado pelas mãos abençoadas das donas-de-casa! E isso não provoca um sentimento de saudade de quem viveu esse tempo?

CHARGES E TIRAS

Os jornais diários são um espelho dos acontecimentos que se registram diariamente pelos quatro cantos do mundo. Sobretudo na atualidade, com os avançados meios de comunicação, que possibilitam rapidamente a chegada das notícias. Nas capitais, inclusive, chegam a duas edições diárias, dado o grande volume do noticiário, informando os leitores, como se afirma, em cima da hora.
Atualmente, as empresas jornalísticas trazem cadernos dedicados aos mais variados segmentos da sociedade, distribuídos em política, economia, saúde, segurança e assuntos gerais, o que facilita o leitor diretamente naquilo que mais lhe interessa. Naturalmente com páginas especiais para editorias, que focalizam os principais assuntos do dia, além de espaço reservado a opiniões dos leitores, por meio de textos e cartas. Ainda no decorrer da semana distribuem cadernos de assuntos específicos destinados a empresários ou dedicados a diversas faixas etárias, feminina e masculina.
Esse é, na verdade, o objetivo principal dos diários matutinos e vespertinos, pois assim cumprem a missão de bem informar seus leitores, assinantes ou avulsos. Mas, além dos temas normais e aqueles que provocam polêmicas, os jornais trazem seções que divertem e têm, tenho certeza, uma imensidão de adeptos. Refiro-me às charges e tiras, que guardam um local especial nas publicações.
Como leitor do jornal “O Estado de São Paulo” me divirto com o humor do Frank & Ernest, Minduim, Recruta Zero, Turma da Mônica e, principalmente, d’O melhor de Calvin. É que este encarna a figura de um moleque travesso. É só olhar para a cara que ele faz na representação das mais diversas situações, que vão desde malandragem, tristeza, tentativa de desobediência aos pais e humor, quase sempre na companhia do seu amigo tigre, para a gente rir.
Bem, mas o que quero mesmo é destacar as charges e tiras que o JP apresenta diariamente, representadas por finas abordagens de seus autores, onde tem um lugar especial o caricaturista Erasmo. A página dois traz desenhos que dizem tudo e que, normalmente, dispensam palavras tão bem caracterizadas que satirizam um fato específico, sobretudo político, ou com chamadas humorísticas. Nos Quadrinhos, as Capivaras mantêm conversas interessantes, com registros de fatos que ocorrem no dia a dia. Por fim, a tira que semanalmente ocupa um espaço no caderno Tribos, com diálogos mantidos por duas senhoras, sempre de caráter alegre, mas também de fundo crítico.
É isso aí. As seções humorísticas dos jornais são para a descontrair os leitores, depois de passarem por tantas notícias nem sempre agradáveis, mas que devem fazer parte das finalidades comunicativas de um órgão da imprensa. E o JP presenteia diariamente seus leitores com interessantes mensagens de humorismo, por meio de hábeis manifestações de seus caricaturistas, proporcionando alegres momentos de distração.

13 de dezembro de 2007

NOS TEMPOS DE CRIANÇA



Quem não traz consigo lembranças agradáveis dos tempos de criança! As meninas com as brincadeiras de roda, bonecas, amarelinha, passa anel, peteca, pata-choca, pula corda, bom barqueiro e os meninos com os jogos de bolinha gude, pião, carrinho de rolimã, rolar dentro de pneus, empinar pipa e outros entretenimentos para passar o tempo. Brincadeiras inocentes até entre meninas e meninos. Brinquedos feitos pelos próprios meninos. Que tempos saudosos que a memória nunca apaga! Talvez seja até por isso que pais e avós gostam de viver os tempos de criança, carregando os filhos de cavalinho nas costas e imitando corcovos, bem como brincando dentro de casa de esconde-esconde pega-pega, “tanda”, forca e tanto quanto mais que dão uma canseira danada. E as crianças riem dos esforços e pedem mais.
Hoje as brincadeiras são outras. As crianças preferem desenhos animados exibidos pela televisão ou passar o tempo com vídeo game e jogos de computadores. São épocas diferentes.
Não adianta fazer comparações. Os tempos são outros. Antigamente, as crianças não tinham as facilidades encontradas hoje, com tudo colocado à sua disposição, mas havia outras opções para se divertir.
Pode ser saudosismo, mas gosto de voltar um pouco no tempo. Eu fabricava caminhõezinhos, pregando uma lata vazia de marmelada Colombo em tábua de caixa de sabão de vinte e sete pedaços. As rodas eram de latas de graxa de sapato e os eixos de galhos de árvores bem roliços. A cabine do motorista era obra criativa de pedaços de madeira. Com isso, eu ficava horas me divertindo no quintal de minha casa, carregando materiais dos mais diversos tipos.
E como conversar ao telefone? Fácil. Um pedaço bem comprido de barbante ligado nas extremidades por duas latas pequenas de extrato de tomate Elefante. Nem sempre era audível, mas eu falava mais alto e o amigo respondia do outro lado e se ouvia tudo muito bem, não fosse pelas linhas telefônicas improvisadas pelo próprio som que o vento trazia. E a gente se divertia matando o tempo com conversa fiada ou combinando traquinagens inocentes, como nadar no rio por perto ou apanhar frutas nos pomares vizinhos.
Para os jogos de futebol, praticado nos campos reservados a pastagens de animais, quando não em terrenos irregulares, de terra batida, as bolas eram feitas de meias em desuso, esburacadas nos dedos e calcanhares, de tamanho dessas usadas em tênis pelos profissionais da atualidade. Os gols eram demarcados com tijolos ou mesmo bonés e roupas dos atletas envolvidos nos jogos. Não havia necessidade da área do pênalti e nem impedimentos eram considerados. O que valia mesmo eram os gols marcados e a consagração dos artilheiros, nos abraços e incentivo das torcidas.
A pipa ou papagaio não era do tipo que hoje tem os mais diferentes tamanhos e desenhos. No meu tempo era feita de papel de seda, colorido, colado com grude de água e trigo em armação de vareta de bambu e a cauda com o mesmo material, mas em elos de diversos tamanhos. Nas linhas eram colocadas mensagens que se perdiam nos ares. O empinar das pipas fustigava acirrada luta entre os concorrentes, por que algumas não subiam e davam as chamadas cabeçadas e caíam no chão.
Bem, se os tempos são outros não há como mudar, tampouco como fugir. As brincadeiras das crianças têm sua época. É a vida que passa e as recordações se transformam em saudade, que a memória registra para sempre.081007.


LEMBRANÇAS DE CASAMENTO




Não são poucos os casais que guardam nos tempos de convívio objetos recebidos como lembranças de seu matrimônio. Trata-se de uma data que fica marcada pelos restos dos anos, aqueles que têm a felicidade de uma convivência sadia, de compreensão mútua, superando os percalços naturais de uma vida em comum que pode superar décadas.
Que casal não tem um álbum de fotografias que registra aqueles momentos de rara emoção! Sobretudo a noiva, sempre a mais bonita de todas, nos passos lentos, distribuindo sorrisos para os olhares que se multiplicam tantos são os convidados à sua espera, enquanto o noivo nas escadarias do altar transpira um sentimento de felicidade. Que noiva esquece os sons da marcha nupcial que soa suave pelos quatro cantos da igreja e fogem pelas brechas das portas e janelas e se perdem nos ares levada pelos ventos de bons augúrios? É bem verdade que as fotos, sempre bem guardadas, acabam por provocar uma saudade que não evita algumas lágrimas escorregarem silenciosas pelo rosto, às vezes, coroado pelos efeitos dos tempos. São registros saudosos, freqüentemente lembrados na presença dos filhos que completam a felicidade dos pais ao longo dos anos.
As fotos do casamento marcam um momento muito particular que também fica perpetuado na memória do casal. Mas há outros motivos e fatos para serem relembrados num tempo futuro.
No retorno às atividades normais, o casal tem que dar um jeito nos presentes recebidos por ocasião das bodas. É preciso colocar tudo em ordem. Cada um no seu lugar, separando os chamados “trens” de cozinha que serão usados diariamente. Pratos, panelas, jogos de xícaras, talheres e outros. Naturalmente, somados aos recebidos pela noiva no chá de cozinha, como guardanapos, toalhas, materiais e objetos de limpeza. São os chamados materiais de consumo, pois o estoque terá que ser reposto na medida das necessidades.
Por outro lado, há que se dar um tratamento especial aos presentes duráveis. Jogos de cristal, chá e café que se destacam com fios de ouro em suas bordas terão um lugar em móvel apropriado. Objetos de arte, como quadros e pratos pintados com toda delicadeza por um parente próximo, terão uma atenção particular e, em razão do seu valor sentimental, colocados em local bem seguro.
É uma pena, mas, embora todo o cuidado seja dado a esses objetos, é bem provável que durante a limpeza, necessária de tempo em tempo, alguns deles sofram uma queda e se despedacem no chão, principalmente com maridos descuidados, que normalmente dão uma mãozinha à consorte nessas oportunidades. Mesmo com compreensão mútua do casal, é um momento de tristeza.
Mas o tempo passa tão depressa e quando o casal se assusta já comemorou bodas de prata, de ouro e até diamante. A família, grande ou pequena, está criada. Cada filho tomou rumo na vida e daí não resta mais nada ao velho casal, senão passar um filme de todo esse tempo decorrido. Aí é que vêm as lembranças de casamento. Fotos e presentes trazem recordações que nunca se esquecem. O casal troca olhares e sempre algumas lágrimas quentes teimam em escorrer pelo rosto. Nessa hora, só mesmo um abraço bem apertado que a emoção provoca por uma vida de convivência feliz.261007

8 de setembro de 2007

O CIRCO


Uma das lembranças mais marcantes que a pessoa carrega dos tempos de criança é a do Circo. A expectativa pela presença do palhaço, a atração maior para seus desejos de sonhos e fantasias. O palhaço, com suas estripulias e brincadeiras ingênuas, que chora e faz rir. Nas arquibancadas de madeira, o menino ri, se encolhe, rói as unhas e, por fim, bate palmas, extravasando sua alegria. Na segunda-feira, quando o Circo vai embora fica triste. Que fazer! O que salva é que no ano que vem o Circo estará de volta.


OS NOVOS VIZINHOS


Nas mudanças de residências que as pessoas fazem na vida, normalmente variadas em números, sempre chamam a atenção as novas e futuras amizades. Conhecer é um despertar de expectativas, porque nunca se sabe o que pode acontecer, sobretudo, em se tratando da curiosidade que alimentam as novas vizinhas.
Já se sabe que as transferências de domicílios são feitas durante o dia e durante o dia os vizinhos estão trabalhando, cumprindo seus compromissos profissionais, ao passo que as vizinhas guardam um tempo para espionar a nova família que chega, enquanto cuidam, zelosamente, de suas tarefas domésticas.
Pois bem. Algumas vizinhas, discretas, preferem o silêncio, mas esticam olhares curiosos por detrás das janelas entreabertas. E se recolhem assim que a nova vizinha também as espia disfarçadamente.
Outras varrem as calçadas e batem papo, enquanto olham furtivamente em direção às
tralhas que são descarregadas. Nunca deixam de registrar alguns comentários dirigidos à vizinha que chega, sobre o penteado, os sapatos, o vestido, a pintura, se é simpática ou não.
Tem as que aparecem nas portas, com membros da família e, sem cerimônia, conversam em voz alta, chamando a atenção como que desejando puxar assunto com os que chegam.
As que regam o jardim e molham vasos ou chegam terra a um pé de rosa vão se aproximando e os recepcionam simpaticamente, desejando-lhes boas vindas, oferecem ajuda, ficam à disposição para qualquer pedido e não se furtam a convite para um café coado na hora, acompanhado de fatias de bolo. Chamam até as crianças para brincarem com os novos colegas.
Essa troca de olhares, no silêncio ou nas conversas discretas, está ligada aos primeiros contatos de um compromisso de amizade, íntima ou não, que será firmado num futuro imediato.
Depois de tudo isso, a formação de um novo círculo de amizade está relacionada ao comportamento a que se predispõem as famílias. Claro que ninguém aprecia aquele entra e sai em casa, principalmente quando da novela, do noticiário ou de um filme dos mais badalados. Tampouco o costume de se emprestar um ovo, uma colher de açúcar, uns pingos de óleo, uma xícara de trigo ou algo parecido.
Perdoados certos inconvenientes, não são poucas as famílias que preferem um contato bem discreto. Mantêm a amizade, se cumprimentam, conversam até animadamente, participam de reuniões, mas tudo na base do necessário, das obrigações do momento. Isso não é bom entre as pessoas extrovertidas, que apreciam bate-papos animados e encontros festivos. Tudo é levado em conta na convivência que será mantida a partir da chegada dos novos vizinhos.
Não duvido que essas observações tenham passadas desapercebidas de quem entra para um novo convívio social. É uma recepção curiosa, mas não deixa de ser uma saudação.

OS SANTOS REMÉDIOS


Sempre é bom ouvir comadres. Não apenas as que seguram os filhos em batizados, mas também aquelas que se fazem amigas em encontros casuais, provocados por viagens, passeios, ônibus ou parado em um canto qualquer, aguardando a chegada de um amigo. Ou, então, nessas barracas de artigos artesanais, bordados, rendados e outras utilidades muito apreciadas pelas donas de casa.
Nessas oportunidades, é só dispor de um tempo, que pode se alongar por horas, as conversas ganham uma extensão sem limites, porque se fala de tudo. Daí a pouco, até parece que os contatos sugerem uma amizade que vem de anos, ainda que isso não seja realidade. Se pessoas conhecidas que se reencontram então é um tal de matar saudade, rememorar fatos, procurar saber por onde anda uma amiga não vista há anos, se casou, se tem filhos, onde mora, dos tempos escolares, se fulana está viva ou não e assim por diante.
Duvido que isso não ocorra com todas as
pessoas.
Quando isso acontece, dificilmente deixa-se de contar um caso, um acontecimento, peraltices de filhos traquinas, uma doença, própria ou de alguém que se conhece. Parece que se encontram assuntos que dão pano para mangas e é um nunca mais acabar de receitas que se constituem em verdadeiros santos remédios.
Sabe-se que gente do interior se apóia em remédios caseiros, chás, emplastros, pomadas e outros preparados para resolver problemas de saúde. Não porque são apenas providências urgentes, como também pelo fato de que a procura de um médico nem sempre tem a rapidez necessária ou pode ficar para o dia seguinte. O que é preciso é resolver na hora uma dor lombar, de estômago, de cabeça, de barriga, contusão, um corte no dedo, um calo que atormenta, um olho de peixe ou outro incômodo qualquer. Para isso, a comadre está sempre ao lado, na vizinhança e o atendimento pode ser através de uma cerca, por cima do muro, em visita em casa. Quem morou em fazendas ou bairros rurais sabe muito bem como fazer isso. Claro que quando a coisa é séria dá-se um jeito para tudo, porque sempre se encontra um amigo por perto para resolver a situação.
Interessante que, nessas ocasiões, fica-se sabendo de tudo, descobrem-se os mais intrincados produtos para as soluções desejadas. Às vezes, plantas bem conhecidas, mas que não se sabia de seu uso para debelar doenças, são plantadas e oferecidas para que sejam cuidadas em casa e fiquem à disposição para qualquer emergência.
E quando a conversa parte para assuntos sentimentais? Um namoro mal compreendido, uma paixão frustrada ou uma traição inesperada? Não falta mesmo recomendação contra inveja, mau-olhado, olho gordo, ciúme ou outro motivo que esteja provocando aborrecimento à pessoa que espera um conselho. Nesse caso, valem muito "simpatias", feitas das mais variadas formas, para curas certas.
Claro que não vou adiantar aqui o nome de nenhuma planta que se transforma em remédio e que produz a cura de qualquer mal, porque essa não é a minha área. Eu gosto é de ouvir, registrar as conversas, os assuntos que dominam esses encontros amigos. Afinal de contas, o cronista vive disso e não pode perder oportunidades como essas, não é verdade? Então, ouço e escrevo. Isso não faz mal algum.






15 de agosto de 2007

CARTA A UM PAI QUE SAIU DE CASA


Sabe, pai, eu não me esqueço do dia em que você saiu de casa. E nunca mais voltou. Fico sempre pensando porque isso aconteceu. Mesmo depois de tanto tempo. Mesmo depois que me fiz homem, já com a consciência de que isso acaba sendo normal na vida de toda pessoa. Resolvi procurar você, pai.
Então, voltei meu pensamento ao passado, num sonho. Você me pegando pelas mãos, me ajudando a dar os primeiros passos, me conduzindo para frente, para o futuro, falando para não olhar de lado, abrindo os braços para me equilibrar.
Ainda pequeno, quantas vezes acompanhei você em pescarias, naquele ribeirãozinho que me parecia algo enorme, com suas corredeiras violentas, com uma fundura que metia medo. E era um simples, manso e inofensivo riozinho onde aprendi a nadar e depois me orgulhava em passar de uma margem a outra, numa arrancada só.
Lembro-me do primeiro peixinho que fisguei. Todo feliz apanhei-o com as mãos e tomei tremenda ferroada. Era um mandizinho amarelo, mas com um ferrão que me fez sentir terrível dor e chorar bastante. Você riu da minha inocência. Depois, quantas ferroadas levei na vida!
E você, pai, saiu de casa e nunca mais voltou. Eu sempre achava que você voltaria.
Fui crescendo. Como a maioria dos garotos, comecei a jogar futebol. Orgulhoso, tirei a primeira fotografia com a camisa do clube. Lembra-se? Você me olhou feliz, talvez, pensando que ficaria um craque, como você. Ainda guardo com muita saudade aquela foto.
E o tempo foi passando. Ah, esse tempo que passa inexorável!
Bem, pai, você sabe que constitui a minha família. Também ensinei orgulhoso cada um de meus filhos a andar. Como você fez comigo. Passo a passo. Pelo menos tentei passar para eles o que aprendi com você. Um rumo certo na vida. Isso me faz feliz, pai.
E como o tempo passa rápido! Quando se é moço, não se vê a hora de chegar o domingo, o aniversário, o Ano-Novo. Depois, ah, não dá para fazer o tempo parar.
Então, pai, resolvi parar um pouco em frente ao espelho. O pente deslizava mais rápido. Começou a aparecer um fio de cabelo branco aqui, outro ali. Uma ruga na testa, outra no canto dos olhos. Lembrei-me de você, quando eu era jovem. Mas eu não sabia porque nasciam os cabelos brancos e nem porque o rosto ficava marcado por rugas.
Lembro-me o dia que você saiu de casa, pai, e nunca mais voltou. Eu sei onde você mora. É uma casa que não tem o luxo daquelas construídas nas vizinhanças. É humilde, nem janelas tem, com uma porta só, por onde, de vez em quando, entra uma pessoa. Mas abrem e fecham a porta tão depressa, que nunca vi você lá dentro.
Sabe, pai, neste Dia dos Pais fiquei um tempão em frente sua casa. Está bonita, pintada de novo. Mas, pai, fiquei muito triste. O pintor cobriu de tinta o seu nome.
Ah, pai, como é triste saber que você não voltará nunca mais.

31 de julho de 2007

O MENINO DA ESTÁTUA


Aquela estátua de mármore não era uma representação figurativa erguida na rua deserta. Provavelmente, homenageando alguma alma feminina. O menino, cansado de fugir, aconchegou-se em seu colo. Ao vento, que a tornava mais fria, embalava o sono. Faltavam-lhes as roupas. Pouco importava. A imaginária canção de ninar os alimentava no carinho do amor.
Ele olhava aquele rosto angelical e retribuía com um sorriso de inocente. Por que estavam a sós? Ela bem que sabia. Mas preferia transmitir com o olhar de mãe a certeza de sua missão. O abandono era circunstancial. Nem os cabelos os separavam. Compridos e loiros, dela. Encaracolados, curtos e escuros, dele. Sentiam-se seguros como os fortes.
A sombra amiga os reconfortava e o perfume das flores os envolvia nos laços eternos do profundo amor a que se entregavam. A troca recíproca de sentimentos os afastava da solidão. Eram solidários e cúmplices de um momento de desventura.
O tempo, no caminhar implacável, foi abreviando-lhes a vida. O sol e as chuvas desbotando o olhar e danificando os corações. A troca de sorrisos foi perdendo o significado mais forte e minando-lhes as forças. O ninar não lhes dava mais descanso.
Na última vez que se olharam, a tristeza embruteceu os semblantes. Os olhos fechados não eram de quem dormia. Ela só parou de embalar quando sentiu frio aquele corpo franzino.
O menino parecia sorrir.