9 de agosto de 2008

O CHAPÉU CAIU DE MODA



Na minha família uma cama e um lavatório marcam sua existência com mais de 100 anos, cujo valor é inestimável, quer como patrimônio e, principalmente, pelo aspecto sentimental.
Não me esqueci, não, de colocar na relação acima o porta-chapéus, peça facilmente encontrada nessas lojas de móveis usados. O porta-chapéus está um pouco em desuso na atualidade, mas é um móvel muito antigo. Não servia apenas para dependurar chapéus, como paletós e guarda-chuva. Agora, é enfeite de salas, serve como decoração em ambiente familiar.
Hoje quase ninguém usa chapéu. Nem para guarnecer a cabeleira de sol ou sereno e muito menos para aquele gesto natural nos cumprimentos às senhoras em encontros familiares ou na demonstração de respeito e carinho em apresentações de damas representativas da sociedade.
Um dia destes deparei-me com um chapéu colocado em um dos cabides desse móvel. Não parecia novo, pois os vincos não guardavam os efeitos característicos e estava coberto de fina camada de poeira destacada por raios do sol que batia na janela, o que denotava que há algum tempo ali descansava. Fiquei a olhá-lo e até simulei um diálogo, não correspondido, claro, mas me interessei um pouco em descobrir, ainda que em pensamento, como teria passado em vida.
Um chapéu, um simples chapéu. A cor amarronzada do feltro causava impressão de abandono. Não me arrisquei em perguntar aos que conversavam por perto a razão para guardar aquele acessório masculino.
Fujo um pouco dessa conversa simulada que pretendi estabelecer e faço meus pensamentos percorrerem o tempo passado, tentando encontrar a resposta que procuro.
Me vêm à memória perguntas que se entrelaçam no mistério que procuro desvendar.
Poderia ser uma lembrança a cutucar a memória de alguém que passou na vida daquelas pessoas a sua volta? Estaria aquele chapéu guardando alguma história sentimental? O que teria passado pela cabeça de quem o usou? Seria algo abandonado, como tudo que o tempo registra?
Perguntas mil me passaram pela cabeça. Não encontrei resposta. Ficou comigo a intenção de saber algo misterioso, como acontece com os curiosos.
Não sei se é um chapéu velho, esquecido no tempo, ou um velho chapéu, repositório de segredos e saudades.

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