27 de julho de 2008

CORRESPONDÊNCIA DIÁRIA


Tempos atrás, quando o carteiro batia à porta de casa era recebido em meio a grande expectativa, em virtude de prováveis novidades ele estivesse portando em carta que entregava. Uma carta apenas, às vezes em espaço de tempo longo, porque a correspondência desse tipo ocorria normalmente entre parentes distantes, nem sempre com freqüência e apenas quando se registrava algum evento importante e o assunto merecia comunicação imediata. Fora isso, raramente havia contato com o funcionário do Correio, a não ser nos encontros de rua, para cumprimentos costumeiros, tão considerado era pelas famílias.

Outro dado interessante é que a correspondência demorava algum tempo para chegar até o destinatário, a não ser quando indicava uma condição expressa, provavelmente em função dessa necessidade e porque o assunto que portava revelaria urgência de conhecimento à pessoa endereçada.

Hoje não é assim. Os tempos passaram e provocaram uma mudança para facilitar o atendimento ao público. Na atualidade é mais que expressa. Foi criado o “Sedex”, com entrega em dois ou três dias e se exigido até em 24 horas. Então, melhorou sensivelmente, mesmo porque outros meios de comunicação entraram pra valer como uma espécie de concorrente em potencial. Entretanto, hoje, o volume de correspondência é maior.

Ao toque da campainha, vou receber a correspondência no portão de casa. O carteiro, solícito e atencioso, sorri, agradece e se despede, depois que assino recibo de um pacote especial.

A pressa me faz deixar tudo sobre uma escrivaninha. À noite, começo a abrir a batelada de envelopes. Neste tempo em que tudo é oferecido com muita facilidade, pouca coisa se aproveita da correspondência diária. Mas se é obrigado a ler carta por carta, ou, pelo menos, olhar rapidamente cada folder, sempre atraente. A primeira mensagem é uma dessas correntes que me prometem ficar rico em pouco tempo. É só mandar umas 10 mil cópias a amigos e inimigos. Trazem algumas advertências, entre elas evitar interrompê-las, pois pode acontecer uma tragédia na família.

Outra carta me diz que fui premiado com um título de sócio de um clube recreativo. Que bom, penso. Depois, leio que só pagarei módicas mensalidades e que é perto, só uns 200 quilômetros de onde moro.

Abro envelope por envelope, seleciono os assuntos, amasso, faço uma bola, miro o cesto e “chuá”, acerto em cheio. Três pontos a meu favor. Bem, o último me desperta interesse. Empresa de turismo oferece facilidade para uma viagem a Santiago de Compostela. Cartões postais maravilhosos.

É tarde, vou descansar, mas fico pensando: conhecer um caminho cercado de tanto misticismo, cantado em prosa e verso por tanta gente, fazer novos amigos e rezar. Sobretudo, fazer orações compenetradas para que os 800 quilômetros de caminhada me façam um turista feliz e convicto da fé que tenho.

Mas eis que o cantar do cuco no relógio da sala me faz despertar, pois é hora de começar um novo dia, cheio de compromissos inadiáveis. Que pena! O que aconteceu nessa viagem sonhada contarei em outra oportunidade, se houver tempo. Sonhar não faz mal a ninguém.

Nenhum comentário: