23 de maio de 2008

QUITUTES CASEIROS

De tempos em tempos minha cachola abre o seu baú de guardados e me põe de volta ao passado, com recordações por demais agradáveis vividas no convívio familiar. Sabem os não muito antepassados que, antigamente, tudo era feito em casa. Não havia quase nada preparado industrialmente e colocado à disposição do consumidor. Como acontece agora. É só chegar no supermercado e uma visita às gôndolas resolve qualquer problema, mesmo que seja de última hora, por ocasião de uma visita inesperada. Muito particularmente, foram as famílias italianas, ou as delas descendentes dando continuidade, que trouxeram do país de origem comidas que acabaram incorporadas ao cardápio brasileiro, notadamente as massas dos mais variados tipos.
Naqueles tempos assava-se o pão no forno feito no quintal, nem sempre ao abrigo das intempéries. A dedicada dona-de-casa preparava a massa na cozinha, que ficava durante algum tempo em vasilha para que crescesse. Enquanto esperava o momento exato para assar, acendia o forno para o aquecimento necessário. E nem precisava de aparelho para saber se ficava no ponto exato. Era na base do olhômetro, pois o fogo provocava ondas externas e facilmente sabia-se que era a hora de enfornar. Nos bairros rurais usavam-se muito, e talvez ainda se usem, folhas de bananeiras para assentar a massa já transformada em diversos pães, de peso que oscilavam de 500 gramas para um quilo. Depois de certo tempo, a abertura da boca do forno era necessária para acompanhar a evolução do cozimento. Ganhando a cor esperada os pães eram retirados, utilizando-se de uma pá de madeira com cabo comprido. Alimento para o café da manhã por uma semana.
Quanta coisa deliciosa se fazia antigamente pelas mãos caprichadas das donas-de-casa. Aliás, dizia-se mesmo que eram mãos de ouro, porque tudo saía bem-feito. Meu pensamento me leva ao quintal de minha casa e vejo minha mãe colhendo goiaba, abóbora, pêssego, figo, laranja (falava-se em laranja azeda ou cavalo), mamão verde, batata e outras frutas para transformá-las em apetitosos doces. E os bolos? De fubá, de milho ou aquele coberto com fatias de bananas, que, se me lembro bem, em casa era chamado de “cufa”. Podiam ser bolos comuns, mas davam água na boca. E os pudins, os manjares brancos? Tem mais. O curau, a pamonha e o arroz-doce?
Já morando na cidade, minha mãe reunia minhas tias aos domingos para jogos de cartas. Inocentes, como escopas simples e de 15. Sem discussões. Era para passar o tempo e bate-papos prolongados, recordar o passado, falar de gente amiga, relembrar parentes que se desligaram das famílias e foram para longe. Depois de algum tempo, a jogatina era interrompida para a degustação de um gostoso “crostoli”, acompanhado de café feito na hora. Esse quitute era feito com massa aberta com rolo de macarrão (dizem que muitas mulheres também se utilizam dele para amansar marido, mas não tenho prova), depois transformada em lâminas estreitas e finas, cortadas em pedaços pequenos, fritas e salpicadas com açúcar cristal. Quem não conhece não sabe o que é bom. Só de escrever dá água na boca.
Ah, mas quantos quitutes saborosos se faziam no passado pelas mãos abençoadas das donas-de-casa! E isso não provoca um sentimento de saudade de quem viveu esse tempo?

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