24 de maio de 2006

O AMOLADOR DE FACAS

Não sei se o leitor desta croniqueta lembra-se do amolador de facas, um excelente prestador de serviços de quem dele precisasse. De velhos tempos esse personagem percorria as ruas da cidade, centrais e bairros, oferecendo seu trabalho.
Pois é. Dia destes vi um amolador de facas descendo a rua XV de Novembro em direção da Estação Rodoviária Urbana. Talvez já tivesse encerrado suas atividades e, então, dirigia-se para sua residência. Me chamou a atenção a presença do amolador no centro da cidade, pois já faz muito tempo que essa figura estava, praticamente, desaparecida. Pelo menos nas ruas principais. É possível, até, que nos bairros seja fácil encontrá-lo. É que a cidade cresceu muito, não é mais do tempo que tudo girava em torno de seu centro principal.
Bem, houve um tempo em que era comum o amolador de facas estar a oferecer seus serviços. E era fácil saber que estava por perto, porque se anunciava através de um sinal sonoro, caracterizado por repetidos batimentos de um instrumento adaptado a uma peça dentada, ou mesmo instalado em aros de uma roda de bicicleta, produzindo um som que chamava a atenção dos cidadãos. Na verdade, não era nenhuma música agradável de se ouvir. Era um som estridente, com alguns decibéis fora do normal, que se podia perceber de longe. Aliás, a sua máquina de trabalho era exatamente uma roda de bicicleta, à qual era adaptado um rebolo, movimentado pelos pedais com a força de um dos pés.
O importante era que, ao perceberem a aproximação do amolador, donas-de-casa, maridos e até crianças muniam-se dos objetos sem corte para recuperação do fio necessário ao uso da ferramenta. O nome desse prestador de serviços é amolador de facas. Entretanto, ele recuperava tesouras, tesourinha, canivetes e outros utensílios que tais, usados na cozinha ou de uso pessoal.
O amolador de facas era um ótimo prestador de serviços no seu ofício e muito requisitado. Embora um trabalho aparentemente simples tinha grande valia. Humildemente desempenhava suas atividades, mantinha a família e, ao que se sabe, muitos chegaram a ter uma vida confortável com o que ganhavam.
Vendo-o em uma das ruas centrais da cidade, lembrei-me de tempos em que a sua presença era constante. Ficava mesmo até horas em esquinas atendendo interessados. Hoje é mais difícil ouvir aquele tocar insistente e barulhento chamando a atenção das donas-de-casa, que utilizam facas para cortar alimentos, e dos cidadãos, que gostam de canivetes afiados para descascar laranjas e picar fumo de corda. E quando isso acontece chama mais a atenção por se constituir em atração, sobretudo, para aqueles que não viveram bem de perto a fase áurea do trabalho desse prestativo cidadão.

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